Editorial BGV n°235 – APMEP
Reduzir as desigualdades
Esta é uma das nossas missões fundamentais: garantir que o género, a classe social, a deficiência ou a origem dos nossos alunos não seja um obstáculo ao seu sucesso académico e às suas escolhas profissionais. Queremos que todos se tornem cidadãos esclarecidos.
No livro “Matheuses” [1] Publicados recentemente, os autores destacam categorias de pessoas que, ao longo das etapas de orientação, “desaparecem” aos poucos para ficarem muito sub-representadas nas carreiras científicas: mulheres, pessoas de classes populares e pessoas de minorias. E não podemos contentar-nos com o argumento do “desejo” para explicar esta sub-representação, tanto mais prejudicial quanto o nosso país necessita de profissionais nestas áreas.
A observação é a mesma em muitos estabelecimentos das redes educativas prioritárias, bem como em Seine Saint-Denis, onde os estabelecimentos se encontram em mau estado ou mesmo insalubres. Os funcionários denunciam a falta de recursos humanos e materiais para acolher todos os estudantes e combater as desigualdades.
Porém, no dia a dia, todos, nos estabelecimentos, nas aulas, trabalham para encontrar a melhor forma de acompanhar e apoiar os alunos com dificuldades académicas ou sociais, para que a escola seja o lugar de emancipação de todos. A luta contra as desigualdades é muitas vezes um tema central dos projectos de estabelecimento, confirmando o desejo de todos os funcionários de contribuir. E a mobilização pode ser ainda mais forte. Por exemplo, o movimento em grande escala em Seine-Saint-Denis envolve funcionários escolares, estudantes e suas famílias. Juntos, exigem meios adicionais para funcionar “normalmente”: contratar professores, formar pessoal educativo, reabilitar instalações… para que os jovens deste departamento beneficiem do serviço público nacional de educação como no resto do país. Noutros lugares, funcionários e famílias estão a organizar conjuntamente operações de “universidades mortas” para expressar a sua oposição ao fortalecimento das desigualdades que o estabelecimento de grupos de níveis irá necessariamente provocar.
Mas estes esforços serão em vão se o sistema educativo e a própria estrutura da escola, desde o jardim de infância até à universidade, não criarem condições para combater as desigualdades ou mesmo implementar medidas que tendam a reforçá-las. Todos os dispositivos educacionais e declarações de intenções são então ineficazes. Há vários anos que denunciamos os efeitos nocivos da reforma do ensino secundário. A estrutura do último ciclo, ao acabar com o grupo de turmas, ao embalar os alunos em ilusões sobre a escolha das especialidades, prejudicou o bem-estar dos alunos do ensino secundário, levou a uma desorganização do ensino em turmas sobrelotadas, à quebra de tempo dedicado ao apoio personalizado e, em última análise, à acentuação das desigualdades. E ainda assim os nossos ministros persistem e impõem grupos de níveis na escola que terão os mesmos efeitos.
O desafio é grande e só pode ser enfrentado através de uma mobilização inabalável em todos os níveis do nosso sistema educativo. Nossos alunos devem ser capazes de participar plenamente dos muitos desafios do nosso futuro. Exigimos condições de aprendizagem e de apoio educativo que dêem a todos a oportunidade de escapar a uma orientação predefinida pela sua classe social ou género. Esperamos que o Ministério da Educação Nacional sensibilize e tome decisões coerentes que abordem estes desafios. A escola deve ser a voz da sociedade, dizendo aos jovens que eles têm um lugar nela.